Beyond the Dreaming Experience
Masud Khan, 1975 (1993)
Em seu terceiro e mais inovador artigo sobre os sonhos, Khan começa relembrando suas teses contidas nos dois artigos anteriores. Sobre o primeiro (1962), lembra de seu conceito de “sonho bom”, através do qual podem-se vislumbrar certas capacidade egoicas e funcionalidades intrapsíquicas, com destaque para a capacidade do ego de tolerar frustrações e experimentar um desejo na situação do sonho, bem como de controlar o influxo de processo primário e oferecer uma dose apropriada de restos diurnos. Khan oferece dois exemplos clínicos de sonhos que não podiam ser oferecidos à época da publicação do primeiro texto.

Do segundo texto (1971) Khan relembra a tese de que a experiência do sonho pode ter uma maior importância para o sonhador do que as diferentes partes do mesmo (e suas interpretações). Usa uma frase que se orgulhou de ter cunhado (Hopkins, 2006): "o texto do sonho [conteúdo manifesto] pode ser uma negação do sonhar”. O espaço do sonho nesse segundo texto é comparado ao espaço transicional winnicottiano.

Nesse terceiro texto ele aprofunda o entendimento do anterior, opondo a experiência do sonho e o texto do sonho. Parte do princípio de que o sonhar e o que é lembrado do sonho em si não são dois conceitos satisfatoriamente diferenciados na literatura psicanalítica.
Lembra Starobinski (1970): “O inconsciente não é apenas linguagem; ele é dramaturgia”. O sonho seria um fato pictórico e estaria além da interpretação. Parafraseando Pontalis (1955 - “o sujeito falante é todo o sujeito”), declara “O sujeito do sonhar é todo o sujeito”.
Khan oferece-nos um poético paralelo: o texto do sonho seria Hamlet, cheio de perguntas sobre si, fadado, enquanto a experiência do sonho seria Édipo, a profundidade em si mesmo, um evento que atualiza o self a partir de uma experiência, o destino.
Khan deixa claro que de uma coisa tem certeza: “de que há uma experiência do sonhar a qual o texto do sonho desconhece completamente”. Nesse sentido o sonho teria a capacidade de atualizar o self e o comportamento mesmo quando não lembrado e a articulação de seu conteúdo com a ajuda do processo secundário poderia apenas atrapalhar esse processo.
Para finalizar, deixa claras duas discordâncias de Freud: a de que os processos primário e secundários sejam antitéticos e a de que o processo primário seja governado tão-somente pelo Princípio do Prazer.
In KHAN, M. "Hidden Selves: Between Theory and Practice in Psychoanalysis". Londres: Karnac, 1983.

REFERÊNCIAS
Hopkins, L. (2006) False Self – The Life of Masud Khan. Londres: Karnac
Pontalis, J.-B. (1955). 'Michel Leiris ou la psychanalyse sans fin'. In Après Freud (Paris: Gallimard, 1968).
Starobinski, J. (1970). 'Hamlet et Oedipe'. In L'Oeil Vivant, n: Le Relation Critique (Paris: Gallimard).


Hopkins
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